Há uma estrada logo à entrada da vila que está igual desde que me lembro. Nada mudou, isto para não dizer que mudou nada. Toda a vila foi feita em obras, em construções ou reparações que a foram alterando: hoje é bem diferente do que era dantes, ainda que nalguns sítios muito subtilmente. Mas aquela estrada, logo à entrada está como se o tempo não tivesse passado. A única diferença é a vista que dantes se tinha e a imagem que fica nos olhos agora. O passado é como essa estrada. Por mais voltas que dermos, vai estar sempre no mesmo lugar, pelo menos até irmos em paz. Podemos dar quantas voltas quisermos, podemos vê-lo de formas diferentes por culpa do presente, mas o passado está lá, como esteve ontem, e ontem, e ontem, e antes.
Como esta estrada, milhares há. Como eu, milhões de outras pessoas olham para trás como quem olha. O passado é a única estrada garantida. Por isso às vezes não devíamos dar-lhe tanta importância. Não dar tanta importância ao que temos garantido. A nossa imagem. Criar algo novo. Algo verdadeiramente novo, que venha de nós, que venha do mundo. Seguir por uma outra qualquer estrada
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