pertencer é uma das mais básicas condições humanas. uma daquelas necessidades que nos influenciam de tal forma que chegamos mesmo a abdicar das nossas mais profundas crenças. no filme Human Nature de Charlie Kaufman uma das protagonistas abandona a sua natureza selvagem, tornando-se mesmo ajudante de um laboratório, por amor. o amor é essa manifestação máxima da necessidade de determinada pessoa. mas nem sempre precisamos de uma só pessoa. às vezes é respeito, outras reconhecimento, outras carinho, outras simples olhares, mas essa necessidade de contacto é das que mais se manifesta. e arrisco-me a dizer que se manifesta em todos os seres humanos.
para pertencer é necessário abdicar-se da identidade. é um estorvo à comunicação muito grande. opiniões fortes, posições vincadas, pouca tolerância. é isso que faz a identidade e é isso que desfaz as relações interpessoais. noutro filme de Kaufman, Being John Malkovich, vemos como uma personagem assume a identidade de Malko de forma a poder enamorar-se com a mulher por quem estava obcecado. nem todas as as relações humanas precisam de abdicação. mas quando as pessoas são mais duras, mais autênticas, torna-se complicado estabelecer-se um diálogo.
a massa, esse ser enorme do qual nós somos pequenas células, precisa que nós deixemos de ser nós. a existência não faz qualquer tipo de sentido, pelo menos a nossa. pode fazer, se formos nós próprios. mas aí, estamos a destruir-nos, a lançar-nos ao vácuo da velha e miserável solidão.
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